sexta-feira, 7 de abril de 2017

Como cheguei até aqui.

Senta que lá vem textão.

Este é um projeto ligado à minha residência médica. Fomos incentivados (na verdade é obrigatório, mas não encarei de forma ruim) a criar um portfólio, relatando as marcas que os atendimentos, paciente, reflexões e experiências de vida poderão causar em mim. Bom. Isso foi o que eu entendi. Se estiver errado eu corrijo depois.

Sou formada em Medicina pela UFPR. Minha graduação aconteceu em 19 de julho de 2013. Faz tempo. Para mim já parece ter passado uma era. Confesso que minhas expectativas durante a faculdade começaram MUITO altas em vista da realidade que é ser um acadêmico. Eu sinceramente me decepcionei. Passei os dois primeiros anos da faculdade me sentindo angustiada, pois era tanta coisa para estudar, tantos assuntos que jamais havia ouvido falar. Tantas coisas abstratas, microscópicas, particularizadas. Literalmente. O corpo humano – e tudo no mundo – é uma maçaroca de partículas que agem dentro de um caos organizado. Essa parte posso dizer que me fascina. Mesmo não entendendo 1/100 do que é a biologia celular, a fisiologia. Entenda: é muita coisa. Não tem como saber nem em duas vidas inteiras. Mas é fascinante.

Pegou aqui o paradoxo?  Hahaha! Frequentemente é uma relação de amor e ódio. Foi assim por quase todos os anos da minha formação.
Nos anos de clínica (terceiro e quarto) eu passei quase a odiar a faculdade. Não me sentia estimulada por quase nenhum professor ou matéria. A culpa foi muito mais minha. Confesso que poderia ter mudado o olhar, a perspectiva, mas não é fácil. Graças que eu não era a única. E isso realmente me ajudou: saber que tinha mais gente que estava angustiado como eu.

A Medicina causa algo em seus filhos que até hoje eu não sei expressar direito. É um sentimento que muitos, se não todo, sentem. Uma sensação crônica de cobrança, ansiedade, ansiedade, às vezes desesperança. Um negócio estranho de saber que ou a gente estuda para sempre ou vai ficar desatualizado num estalo de dedos. Mas hoje em dia é assim em quase todas as profissões. Quem não se atualiza cai fora. Fato.
As coisas começaram a mudar quando entrei no internato. Ah, o internato! Contato com os pacientes. Participar dos ambulatórios mais ativamente. Atrapalhar participar de cirurgias. Ali eu descobri o que estava fazendo na medicina.

Muitos não fazem ideia disso que relatei. Acho que até posso ser considerada ingrata, exagerada... sei lá. Mas eu não tenho mais problemas com a minha história. Não tenho nenhum problema assumir que minha profissão é parte da minha vida, e não minha vida. Mas confesso que meu olhos crescem ao ler “médico de família”, “visita domiciliar”, “dotôra do postinho”, “isso aí é especialidade?”. Hahahahaha!

Estou redescobrindo e fortalecendo meu amor por esta profissão que tenho. Passei por várias dúvidas do que cursar como especialização. Quando me formei sentia que não tinha capacidade nenhuma para ser especialista em nada. E isso me fez trabalhar sem muita pretensão de  uma especialização. Mas as coisas vão mudando, pessoas vão chegando e te mostrando um significado diferente da medicina, um prisma diferente. Muitas pessoas recarregam sua força em querer ser melhor. Aqui eu devo muito a meu querido Gui. Ele sempre acreditou em mim. Para ele eu sou a melhor médica do mundo. E também aqui devo muito à minha querida cunhada Karol. Nela eu vi uma força de vontade para estudar, batalhar... um amor pela medicina que eu há muito tempo não via, muito menos sentia. E isto me ajudou a sair da inércia, a querer mais. A passar pelas dificuldades, pagar o preço para conseguir um objetivo. E graças a diversas pessoas que amo muito, estou aqui. Fazendo minha residência. Criando minha filha. Cuidando da minha casa,meu marido, minha cachorrinha.  E voltando (ou começando) a amar a medicina como jamais havia acontecido antes.

Aqui vou registrar histórias que durante minha vida profissional de alguma forma me tocaram, tanto para bem como para mal. Histórias que me fizerem crescer.

Espero uma boa caminhada para mim!