Senta que lá vem textão.
Este é um projeto ligado à
minha residência médica. Fomos incentivados (na verdade é obrigatório, mas não
encarei de forma ruim) a criar um portfólio, relatando as marcas que os
atendimentos, paciente, reflexões e experiências de vida poderão causar em mim.
Bom. Isso foi o que eu entendi. Se estiver errado eu corrijo depois.
Sou formada em Medicina pela
UFPR. Minha graduação aconteceu em 19 de julho de 2013. Faz tempo. Para mim já
parece ter passado uma era. Confesso que minhas expectativas durante a
faculdade começaram MUITO altas em vista da realidade que é ser um acadêmico.
Eu sinceramente me decepcionei. Passei os dois primeiros anos da faculdade me
sentindo angustiada, pois era tanta coisa para estudar, tantos assuntos que
jamais havia ouvido falar. Tantas coisas abstratas, microscópicas,
particularizadas. Literalmente. O corpo humano – e tudo no mundo – é uma maçaroca
de partículas que agem dentro de um caos organizado. Essa parte posso dizer que
me fascina. Mesmo não entendendo 1/100 do que é a biologia celular, a
fisiologia. Entenda: é muita coisa. Não tem como saber nem em duas vidas inteiras.
Mas é fascinante.
Pegou aqui o paradoxo? Hahaha!
Frequentemente é uma relação de amor e ódio. Foi assim por quase todos os anos
da minha formação.
Nos anos de clínica (terceiro e quarto) eu passei quase a odiar a
faculdade. Não me sentia estimulada por quase nenhum professor ou matéria. A culpa
foi muito mais minha. Confesso que poderia ter mudado o olhar, a perspectiva,
mas não é fácil. Graças que eu não era a única. E isso realmente me ajudou:
saber que tinha mais gente que estava angustiado como eu.
A Medicina causa algo em seus filhos que até hoje eu não sei
expressar direito. É um sentimento que muitos, se não todo, sentem. Uma
sensação crônica de cobrança, ansiedade, ansiedade, às vezes desesperança. Um negócio
estranho de saber que ou a gente estuda para sempre ou vai ficar desatualizado
num estalo de dedos. Mas hoje em dia é assim em quase todas as profissões. Quem
não se atualiza cai fora. Fato.
As coisas começaram a mudar quando entrei no internato. Ah, o
internato! Contato com os pacientes. Participar dos ambulatórios mais
ativamente. Atrapalhar participar de cirurgias. Ali eu descobri o que
estava fazendo na medicina.
Muitos não fazem ideia disso que relatei. Acho que até posso ser
considerada ingrata, exagerada... sei lá. Mas eu não tenho mais problemas com a
minha história. Não tenho nenhum problema assumir que minha profissão é parte
da minha vida, e não minha vida. Mas confesso que meu olhos crescem ao ler “médico
de família”, “visita domiciliar”, “dotôra do postinho”, “isso aí é
especialidade?”. Hahahahaha!
Estou redescobrindo e fortalecendo meu amor por esta profissão que
tenho. Passei por várias dúvidas do que cursar como especialização. Quando me
formei sentia que não tinha capacidade nenhuma para ser especialista em nada. E
isso me fez trabalhar sem muita pretensão de
uma especialização. Mas as coisas vão mudando, pessoas vão chegando e te
mostrando um significado diferente da medicina, um prisma diferente. Muitas pessoas
recarregam sua força em querer ser melhor. Aqui eu devo muito a meu querido
Gui. Ele sempre acreditou em mim. Para ele eu sou a melhor médica do mundo. E também
aqui devo muito à minha querida cunhada Karol. Nela eu vi uma força de vontade
para estudar, batalhar... um amor pela medicina que eu há muito tempo não via,
muito menos sentia. E isto me ajudou a sair da inércia, a querer mais. A passar
pelas dificuldades, pagar o preço para conseguir um objetivo. E graças a
diversas pessoas que amo muito, estou aqui. Fazendo minha residência. Criando minha
filha. Cuidando da minha casa,meu marido, minha cachorrinha. E voltando (ou começando) a amar a medicina
como jamais havia acontecido antes.
Aqui vou registrar histórias que durante minha vida profissional
de alguma forma me tocaram, tanto para bem como para mal. Histórias que me
fizerem crescer.
Espero uma boa caminhada para mim!